Para mim, o design é uma forma de reflexão sobre a vida. Uma maneira de refletir sobre a sociedade, o erotismo, a comida e, também, sobre o próprio design. Afinal de contas, ele é um modo de construir uma utopia figurativa possível ou uma metáfora da vida. Certamente, para mim, o design não se limita à necessidade de dar forma a alguns produtos mais ou menos estúpidos para umas indústrias mais ou menos sofisticadas. Assim, se há algo a ser ensinar sobre o design, teria que ser, antes de tudo, sobre a vida, insistindo, explicando que a tecnologia é uma de suas metáforas. Ettore Sottsass
Ettore Sottsass, anarquista do design. Dedicou-se a rever o «pensamento estático em relação ao design fundamentado no funcional», e a sacudir o que dizia serem as estruturas burocráticas da indústria. Criou objetos para o grupo italiano Alessi, participou no desenho dos primeiros computadores e integrou o estúdio de mobiliário Alchymia nos anos 1970 — até fundar em Milão, na década seguinte, o grupo Memphis.
(Áustria, 1917 - Milão, 2007), filho de pai italiano e mãe austríaca, foi um dos expoentes do desenho italiano do pós-guerra,
Formou-se arquitecto pela Universidade Politécnica de Turim em 1939.
Durante a Guerra de 1945, serviu num campo de concentração na Jugoslávia. Em seguida, instalou-se em Milão, em 1946, onde iniciou a sua carreira abrindo um estúdio próprio. Em 1958, passou a ser responsável pelo design dos produtos Olivetti, ofício que lhe traria o reconhecimento internacional.
Criou produtos não só inovadores como também esteticamente chamativos, influenciados pelas culturas pop e beat da década de 1960, associando o nome da empresa ao design industrial de ponta.
A Elea 9003, primeira calculadora italiana, ganhou para a Olivetti o prémio Compasso de Ouro, em 1959.
Valentine
Em 1963, Sottsass criou a máquina de escrever Praxis; em 1964, a Tekne; e em 1969, a de maior sucesso, Valentine, de plástico. "Chama-se Valentine e foi inventada para ser utilizada em toda a parte, excepto no escritório. A sua finalidade não é evocar a monotonia das horas de escritório, mas fazer companhia aos poetas amadores, que cortejam as musas ao domingo no campo ou para decorar uma mesa de um estúdio, como objeto de cor viva." Revista Abitare, 1969.
Em 1970, criou a Synthesis 45, cadeira de escritório em cores vivas de modo que a alegria penetrasse no ambiente de trabalho. Expôs as suas criações no Studio Alchimia, fundado em 1976, também em Milão, tornando-se o ponto de encontro da vanguarda pós-radical com Ettore Sottsass e jovens arquitetos e designers como Alessandro Mendini (n.1931), Michele De Lucchi (n.1952), Andrea Branzi (n.1938), Aldo Cibic (n.1955) e Nathalie Du Pasquier (n.1957).
Estudo de Sottsass
Memphis
Em 1980 fundou o grupo Memphis, com De Lucchi e Branzi, movimento anti–design que veio a caracterizar o estilo pós-modernista.
Com motivos da arquitetura clássica e do kitsch dos anos 50, materiais baratos como o laminado plástico e cores ousadas, davam mais ênfase à aparência do que à funcionalidade preconizada pelo design moderno da Bauhaus.
O nome Memphis, em atitude dadaísta, foi tirado da música de Bob Dylan, sendo escolhido por lembrar o blues, o Tennessee — e também o Egipto.
A primeira exposição do grupo foi na Feira do Móvel de Milão, em 1981, obtendo enorme sucesso, apesar das críticas. O evento repetiu-se todos os anos até 1988, quando o grupo se desfez — consciente de que já não era possível surpreender.
Sottsass já tinha abandonado o grupo em 1985, concentrando as suas actividades no estúdio Sottsass Associati, onde voltou a dedicar-se à arquitectura, trabalhando em projetos para cadeias de lojas, prédios públicos e residências. Mesmo depois da sua dissolução em 1988, o grupo Memphis influenciou muito o design.
Alguns dos conceitos propostos sobreviveram, como o uso de cores fortes e contrastantes em móveis e utensílios; e também o uso do plástico, que pelas mãos dos italianos, ganhou formas originais e ar refinado, além de contribuir para baratear o design e abrir caminho para a aceitação de objetos como os do celebrado designer francês Philippe Starck.
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Texto retirado do blog: http://tipografos.net/ (autor do texto Paulo Heitlinger)